terça-feira, 27 de abril de 2010

Casulo


E que essa massa amorfa, disforme, impregnada da mais pura indecência que habito venha derrubar os pilares já falidos. E que na volúpia desse meu desatino eu possa encontrar a paz que eu preciso. Tento, como um vulcão sedento de fogo, expulsar a larva embrionária que já não cabe em mim. Misturo em cinza o pó da mais sublime fumaça que ouso respirar. Encontro-me empoeirado de desejos, fadigado de temores, enfeitiçado pela mais tênue linha que separa a loucura da sanidade. Uma bola de quereres desce ribanceira a baixo do meu eu. Deixo-me desabar catastroficamente nessa avalanche de sentidos, de sentimentos, de momentos. Ah! que carnegão mais torpe expulso de mim! Sou um homem virulento, volátil, voraz, vulcânico, vil, vivo. Também escondo o pus por de trás da cicatriz que cuido. Também sou raposa, sou caçador. Imberbe por natureza, repleto de penugens, flora, cútis e coração deflorados. Aqui habita um fervilhão austero e leve. Eis a dualidade, o limbo desse meu casulo. Sou simples mas sou cascudo!

sábado, 17 de abril de 2010

Típicos.


Ontem foi um dia típico. Não bastasse a peça de um amigo. Noite típica de quem sonha... de quem não quer ir embora...Típico de tipos que me formam a cada dia. Eu explico. Nesses tempos de chuva, de fertilidade abrupta, tempos de portas fechadas e frutos sem colheita eu me questiono a pele. À flor da pele. E quando me vejo formado, plantado e desesperadamente irrigado noto que disforme estou. Não eu apenas. Muitos calejados... Doídos... Açoitados ,como ouvi dizer, vão perdendo a fúria de predador sujeitos a virar caça ou mudar de canil.Como é difícil nossa peneira cultural. Se é que se pode coar o mesmo bagaço sempre.Uma hora o refresco perde o sabor... a vitalidade jovem... o sumo dos que também precisam ser Suco. Isso é típico da nossa Bahia. Típico do nosso governo. Típico da nossa formação. Típico do nosso Brasil. E eu que ando numa fase Atípica vou me convencendo de que não basta sermos leões. Precisamos chicotear de vez em quando. Típico de quem desabafa... Rugido dos desesperados!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

" Bicho Bufão "



E eu me pego um Elefante Infante!
Selvagem e amante.
Um animal gigante.
Sou grande, sou bravo...
Não tombas...me cante.
Minha tromba é balela.
Meu jeito é elegante.
Pareço bicho zangado
Mas sofro dessa impressão.
Minha pata desenha um buraco.
Meu beijo no chão uma canção.
No fundo sou mera formiga.
No raso atração de circo.
No meio pareço antigo.
De perto posso ser amigo.
Não me julgues...
Não corras de mim...
Se quizer voar monta em meu cinza!
O dia mente
O dia amante
O diamante!
Coisas de um elefante.


terça-feira, 13 de abril de 2010

" ? "

Vontade de interrogar você, interrogação!
Ponto final com pinta de continuação.
Não se escreve nada se não deixas o lápis discorrer sobre a lauda,
mesmo que seja sobre o rascunho rasurado.
Tão bem escrita aquela oração precedida de apostos, quantos adjetivos, tantos predicados.
Uma noite inteira decifrando sons, palavras, códigos.
Eram frases, versos, riscos à pele.
Um livro inteiro assinado com ponto de exclamação!
Parece que agora as vírgulas separaram nossos verbos.
Mudaram-se as páginas.
Eu, escrevo objetivo, focado. Tranco-me nos papéis até a linguagem surgir.
Sou inclinado à metáforas, eu sei. Mas sou jornalístico quando quero.
Hum... Acho que achei a resposta, interrogação: Sou do Romance, você do Suspense.
Só não se esqueça da minha objeção. Meu ponto é categórico. E ponto.
De reticências já basta o que eu escrevo...

domingo, 11 de abril de 2010

" Aqueles dois"

Um hino ao desejo, ode à paixão, encontro do acaso ou o destino gritando amém: viva o amor! (Um resumo do que ficou). Ninguém está imune à paixão. Independente de raça, sexo, escolha, convenção. A vontade, os desejos, existem e estamos sujeitos a eles tal como flores em jardins. Tudo brota. Surge. Sente-se. O sentimento é assim... Somos reféns dele à ponto de nos entregarmos. Cumprir prisão perpétua, regime fechado, semi-aberto, aberto ou até, por fim, a tão sonhada liberdade incondicional. "Sentir", então, seria uma espécie de cela, de enclausuramento? Talvez sim. Uma cadeia excêntrica, eu diria, um sistema carcerário autônomo que só o preso administra ou deveria saber administrar. Uma pena de autogestão. Mas por que falo disso? Não sei. É que hoje vi o contrário, fui sacudido na cadeira da frente. Vi duas pessoas irem de encontro a uma paixão incomum: livres da prisão que tal desejo poderia ocasionar. Livre das convenções, dos estereótipos, da catequese dos bons costumes, sobretudo, livre de qualquer manual sobre a forma certa de se apaixonar ( Parece estranho mas esses "roteiros" existem!).
Volta e meia projetamos um amor, inventamos uma paixão, impedimos que ela surja de fato e nos tire os pés do chão. Engraçado. Hoje foi tudo às avessas. Eu me desconheci perante eles. Percebi que falta aquilo que vi simples: ARREBATAMENTO. Quando isso acontece, consequente - inconsciente, nada mais importa. Nem mesmo o lugar de trabalho, uma repartição pública, por exemplo. Poderia ser um escritório, uma igreja ou um palco de teatro. E foi. Arrebatar quer dizer Protagonizar. Você se torna principal na história. O que fica ao redor são meros adjuvantes. Um encontro de almas desertas revive em alma única, em alma coabitada. Interseção de vidas. Um oásis Caio Fernando Abreusístico.

Fica o desejo de ser arrebatado. Belo espetáculo Cia Luna Lunera. Música para os meus ouvidos, quadro para meus olhos, fogo em meus sentidos, teatro pra essa minha vida cheia de Eu, Tu, Aqueles.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Escudo

Cuspido em feto, farto escudo.
Rachado, confesso, presente em tudo!
Armas não tenho, prefiro a defesa.
De golpes me abstenho.
Erguer-te já és um locaute!
Pode atirar que escuro.
Pode atirar que escudo.
Estudo
Cuido 
Curo.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Lua

Eu sempre gostei de lua.
Talvez pela noite que me faz melhor...
Talvez pelo tempo que melhor me faz...
Não sei ao certo.
Mas de fato eu sempre a busco.
A sua imagem desenhada, sempre uma pergunta.
Para uns uma santa,
Para outros um dragão.
Pra mim... uma incógnita. Uma bola saltada no vazio.
Um imã meu. Um divã.
No inicio era admiração. Beleza que me atraia. Curiosidade inocente.
Hoje é reverência. Divindade. Respeito.
Dessa minha dependência... Desse meu relacionamento...
as fases de ambos, eu e ela, convergem ao meu ponto incomum
Quando estou cheio de amor, cheia ela fica.
Quando choro de dor, ela míngua.
Quando amadureço, nova ela é.
Quando penso que cresci, crescente ela se torna.
Não conheço muito de horóscopo, de astrologia, de magia.
Mas se existe uma força natural e que me rege de alguma forma,
nego o Sol. Tu não és.
Pois quando amanhece continuo dormindo
esperando ela chegar.
Pois quando amanheço é porque sei que é hora dela dormir.
Então, ó lua, quero ser o mais fiel dos tripulantes.
Ir ao seu encontro num foguete próximo!