sábado, 5 de junho de 2010

Os enamorados

Quando se fala em Goldoni- penso eu- em Itália, em Comedia dell"arte, em farsa. Foi com essas referências que curiosamente cheguei no teatro. O texto não conhecia, a história presumia mas a curiosidade me era instigante. Não sei ao certo os motivos mas estava curioso. O espetáculo começou. O cenário requintado, vermelho da paixão com lustres flutuantes fazendo o adorno da caixa cênica. Uma sala de estar, pensei. Lembrei-me do Teatro Elisabetano com suas cortinas felpudas, tapetes luxuosos, níveis altos. O figurino, mesclava antiguidade com modernidade. Um completava o outro, o conceito era o mesmo. Iluminação de sombras, tons escuros, diria finos, não sei, me parecia requintado. Entram os atores. Espero a leveza, os trejeitos farsescos, a agilidade. Estranho. Tinha um toque diferente. Surpreendente. Fiquei estranhado, estranhamento, estranhei. O corpo desenhava a fala, acompanhava o gesto, criava um novo código. A cada fala uma nova partitura física. O verbo e a ação pareciam estar colados, fixos. Uma dependência mútua. Estranhei novamente. Refleti. Aliás, não refleti. Só depois. Não dava tempo. Pouco a pouco me enamorei. A historia de amor simples, clichê, dessas em que o casal se ama mas não se entende sabe? Lembrei do Cravo e a Rosa, A Megera domada, Romeu e Julieta. Lembrei dos casais apaixonados que não se entendem ou que não querem se entender. Lembrei ainda daqueles que são impedidos de se entenderem. Enfim... Então quando eu  menos esperava, outra surpresa: luta. Isso mesmo. Os atores mais precisamente Eugênia e Fulgêncio criavam suas relações através de partituras físicas de afeto ou de raiva. Lutavam entre si. Era estranho, diferente e muito bem executado diga-se de passagem. Nossa! Que interessante, pensei. A falta de dialogo dos personagens contrastava com a simbiose orgânica dos atores. Prontidão. Foco. Agilidade. Leveza. Prontidão. Prontidão e prontidão. Gosto da forma como foi dito o texto, da forma como foi dançado o texto. O texto em si, talvez nem gostaria. Que namoro bonito o de vocês: elenco e diretor apaixonados. Saldo da noite: Enamorei! Aquele prévio estranhamento aflorou mais uma paixão. E se até Brecht provoca o estranhamento... quem sou eu pra não estranhar...

Parabéns Antônio Fábio, Parabéns Rô, Parabéns elenco. Belo espetáculo! Ousado, diferente e principalmente muito bem executado. Sai feliz da sala "requintada". Sai enamorado!

http://www.espetaculoosenamorados.blogspot.com/

2 comentários:

  1. Emocionado com suas palavras. Q bom q tocamos seu coração. Forte abraço,
    PS: Tomei a liberdade de copiar seu texto no blog dos enamorados

    ResponderExcluir