sábado, 19 de dezembro de 2009

Burocrático.

Sentei-me destinado a escrever, predestinado a crer naquilo que sempre rabisco.
Faço isso sempre e confesso que sou inclinado à melancolia. Não à tristeza e sim
à candura que dela reflete.
Quando estamos magoados, quando algo nos aborrece, quando me sinto só,
quando quero e não tenho, quando posso e não quero, quando corro e escorrego ou quando paro e passam
por mim, logo me vem uma vontade de registrar, um refúgio em forma de códigos, de letras, de métricas.
Leio dentro de mim as palavras que transbordam em frases, formas e canção e assim vou me livrando...
Assim vou vivendo...
Assim morro e renasço sempre que cumpro a missão de aqui estar: expulsando de mim
tudo. Sentimento, pensamento, batimento e coração.
Hoje porém me senti burocrático. Parei e pensei " preciso escrever".
Realmente tudo parou nesse instante.
Nunca funcionou assim. Sempre que sentava, sempre que sento (acho) o ato da transcrição -
do músculo em giz, do peito em raiz, da dor um triz - dá-se inusitado. Quase psicográfico.
Hoje foi diferente. Senti falta da mecânica de escrever, da rotina acostumada, não de transcrever.
Desde então revisitei meu eu, assim sem pedir licença, e logo achei a resposta. Ao menos o dom da profecia.


Vi lá dentro uma onda imensa de felicidade que vinha alagando o corpo em chama.
Vi lá de dentro uma plenitude que não mais cabia em mim e procurava reserva.
Vi de fora que lá dentro nada queria sair.
Vi que tudo lá guardado nada tinha que sair.
Vi o avesso transfigurar, de dentro pra fora em mundo pra Bruno.


Assim...


Sentei-me destinado a escrever, predestinado a crer naquilo que sempre rabisco.
Agora arrebatado de felicidade, com a candura de uma melancolia que me inspira.
Mas com a verve da paixão que me faz parar.

Um comentário:

  1. Bruninho, como disse Alice à Lagarta:
    "“Posso explicar uma porção de coisas, mas não posso explicar a mim mesma”

    (Alice no país das maravilhas, Lewis Carroll)

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