domingo, 8 de agosto de 2010

Peçonhento

Em tempos de glória às avessas, onde a impunidade impera, onde a honra não tem sapatos, onde o talento não tem vez, onde a imagem se perde na retina e o produto dos brutos nos é enfiado goela a baixo, houve-se o clamor dos oprimidos. Se há o opressor há o oprimido já dizia Boal. E desde que o mundo é mundo tal relação se confunde. Se me sinto injustiçado, se me negam o poder da chance, volto ao meu umbigo e grito que fui vítima, falo que sou réu, nego que fui culpado, finjo que sou oprimido. É a lei dos bichos: defender-se. No caso dos homens essa faceta é recolher-se, tal como uma cobra após ser cutucada, feito bicho arredio que nega seu poder de bote. Dizer-se oprimido, mesmo que verdadeiramente dito é um ato de defesa. Será que estamos sempre nos defendendo dos outros, de nós mesmos? Diria que é o caminho mais fácil, ou melhor, mais imediato para quem sempre quer um sim: Os bichos, esses peçonhentos homens de quem vos falo. Em tempos de porcos, de pastos, de piranhas e sanguessugas não adianta tentar distinguir quem sujou, mordeu ou sugou. Os verbos só existem porque os substantivos se permitem agir. O "encolher-se", mesmo que provocado, consiste em ação, em escolha, em variação. O bicho homem nunca está inerte e, portanto, seu "status" de oprimido por vezes deve ser contestado. Andei oprimido, feito cobra enrolada, até que o veneno meu, da própria natureza, veio revelar-se num dia de domingo. E pra não falar de "bola na trave", "quases" e "injustiças" digo que estou Opressor. De mim mesmo. E lá vou eu me defender de novo...




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